18.09.2025

Leader's Talks - Mónica Brito (CEO @ Crioestaminal)

"Resiliência e propósito podem mudar o futuro da saúde."
Leader's Talks - Mónica Brito (CEO @ Crioestaminal)
Mónica Brito
CEO @ Crioestaminal

De bioquímica a CEO, Mónica lidera a Crioestaminal com visão e proximidade, transformando a ciência das células estaminais em novas perspetivas para milhares de famílias. A sua trajetória mostra que resiliência e propósito podem mudar o futuro da saúde.

1. Mónica, pode começar por nos falar um pouco sobre si e sobre o seu percurso académico? 

Mónica: Sou Bioquímica de formação, licenciei-me pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. A Bioquímica dá-nos acesso a uma panóplia de opções profissionais, muito diversificadas. E eu sempre tive interesse pela área clínica e pelo tratamento de doenças, mais do que pela investigação básica, por isso segui inicialmente a área das Análises Clínicas. 

Comecei a trabalhar nesta área logo após a conclusão do meu curso e durante esta fase, fiz também uma pós-graduação em Análises Clínicas e Saúde Pública na Faculdade de Farmácia de Coimbra para aprofundar os meus conhecimentos teóricos.

2. E como surgiu a sua ligação à Crioestaminal?

Mónica: A minha ligação à Crioestaminal surgiu quando ainda estava a fazer a minha pós-graduação. A empresa já estava no mercado há cerca de 3 anos, com uma atividade sólida e consistente e foi por volta de 2006, que em contacto com alguns antigos colegas do curso de Bioquímica, que foram fundadores da Crioestaminal, que surgiu o convite.  

Aceitei o mesmo e tive a oportunidade de integrar a equipa que estava a lançar o laboratório de criopreservação de sangue do cordão umbilical, em Portugal. 

Esta era uma área nova em Portugal e era também muito diferente daquilo que eu fazia até então, mas ao mesmo tempo, tinha toda a ligação à parte clínica, à parte de tratamento e à parte das doenças, que era tudo o que se alinhava com o meu propósito. 

3. Qual foi a sua função inicial na empresa?

Mónica: Comecei como técnica superior de laboratório, trabalhando tanto nas análises quanto na criopreservação. Como éramos uma equipa pequena, todos fazíamos um pouco de tudo. Isso permitiu-me conhecer profundamente as operações e o desenvolvimento do laboratório em Portugal.

4. E como se deu a sua progressão dentro da empresa?

Mónica: Passados dois anos, deixei de ser técnica superior de laboratório e passei a ser a responsável pela equipa de criopreservação. 

E enquanto estava a exercer esta função, tive oportunidade de realizar algumas formações na área da gestão, como programas de empreendedorismo e inovação e, mais tarde, já em 2015, um MBA em Gestão de Empresas. 

Em paralelo e nesta altura já como diretora de operações, onde tinha um espectro mais alargado de responsabilidade e atuação na empresa, assumi o lançamento da atividade da Crioestaminal na Suíça, o que me deu uma experiência prática bastante valiosa em gestão internacional.

 

5. Quando é que se tornou CEO?

Mónica: Antes de me tornar CEO e após algumas alterações naturais que foram ocorrendo ao nível da administração da empresa, fui convidada, enquanto Diretora de Operações, para integrar o Conselho de Administração.

Mais recentemente, em 2022, após o antigo CEO, que também era um dos fundadores da empresa, deixar o cargo, eu fui convidada a assumir a posição que tenho até hoje.

Considero que este percurso foi natural, não foi propriamente pensado ou programado, foi sim um conjunto de oportunidades que foram surgindo e que se adequaram ao meu percurso na empresa e ao meu crescimento pessoal e profissional.

E sem dúvida, que este foi o momento mais marcante da minha carreira até ao momento. 

6. E quais são os maiores desafios de ser CEO numa área tão sensível como a Criopreservação?

Mónica: São vários desafios, além da parte de liderança de equipas, onde é muito importante mantê-las motivadas e focadas naquilo que são os nossos objetivos. 

Esta área pode divergir em várias direções e temos que manter um foco muito grande, pois é uma área muito sensível, onde a comunicação que fazemos implica termos um enorme cuidado com a informação que estamos a transmitir.

É essencial estarmos sempre sensibilizados e a par de tudo aquilo que está a acontecer, não só para transmitirmos a informação da melhor forma, mas também para podermos continuar a inovar, a evoluir e a dar resposta às necessidades das famílias e dos profissionais de saúde. 

No meu entender e apesar de termos especialistas em todas as áreas que referi acima, considero que um CEO deve acompanhar, compreender e ser conhecedor do que se está a desenvolver. Devemos mantermo-nos informados, continuar a estudar e a aprender.

7. Como descreveria o seu estilo de liderança?

Mónica: Gosto de estar disponível e ser desbloqueadora. 

Ou seja, procuro sempre estar presente para os colaboradores da empresa, ouvi-los quando estes precisam, apoiá-los quando surgem obstáculos e garantir que as equipas avançam sem bloqueios. Acredito que a proximidade e o exemplo são fundamentais.

8. Quantas pessoas trabalham atualmente na Crioestaminal? E o que valoriza mais numa equipa de trabalho?

Mónica: Atualmente somos cerca de 60 colaboradores.

Em relação a uma equipa de trabalho, o que valorizo mais é a transparência, a colaboração e o espírito de equipa, que são fundamentais para atingirmos os resultados coletivos.

9. Para além do trabalho, como equilibra a sua vida pessoal e profissional?

Mónica: É essencial manter o equilíbrio. Tenho dois filhos, dois rapazes, com 11 e 16 anos e uma vida familiar muito ativa, gostamos de equitação, de caminhadas, de estar com os nossos animais de estimação e de estar em contacto com a natureza. 

Também valorizo os meus momentos de introspeção e de leitura, que me ajudam a manter a clareza mental e o equilíbrio.

Tento separar os momentos de trabalho e os momentos pessoais sempre que possível, e também dou o exemplo dentro da empresa, mostrando que é importante desligar para recarregar energias.

10. Que legado gostaria de deixar na empresa e no sector da saúde em Portugal?

Mónica: Tenho duas coisas que gostava de chegar próximo de realizar.

Por um lado, gostava de conseguir que a empresa funcione de forma autónoma e integrada, que a posição de liderança de topo não seja quase necessária ou visível, no sentido em que as equipas estão de tal forma colaborativas e alinhadas com o propósito e os objetivos da empresa, que faz com que tudo flua naturalmente. Ou seja, gostaria de deixar a equipa preparada e madura o suficiente para que isto seja possível de acontecer. 

E por outro lado, gostava que em Portugal conseguíssemos ter pelo menos um tratamento com as células estaminais, fora daquilo que é um tratamento standard realizado nas áreas da hematologia/hemato-oncologia nos IPOs. Existem muitos outros tratamentos inovadores que já estão a ser desenvolvidos e implementados noutros países e gostava que nós conseguíssemos chegar à fase de ter esses tratamentos no nosso país, ainda que de uma forma experimental em contexto de ensaio clínico ou mecanismos de isenção hospitalar.

11. Que conselho daria a jovens cientistas, especialmente mulheres que queiram seguir uma carreira de liderança em Biotecnologia?

Mónica: Diria para estarem sempre atentas, despertas e disponíveis a aprender, quer seja com as circunstâncias que as rodeiam, quer com as restantes pessoas com quem trabalham.

Que sejam resilientes e que não tenham medo de percorrer caminhos inesperados. O percurso não é linear, mas é recompensador.

Em suma, diria que o foco, a resiliência e a abertura para aprender são fundamentais.

12. Agora com o foco mais na empresa, gostaríamos de saber qual é a missão central da Crioestaminal?

Mónica: A nossa missão vai além do armazenamento de células estaminais, de sermos apenas um banco de criopreservação. 

O foco da empresa sempre foi armazenar as células, mas também trabalhar em investigação e mobilizar os meios necessários para que mais terapias possam estar disponíveis, naturalmente com base nas células estaminais que é o nosso foco, mas eventualmente até com outro tipo de fontes, sem ser só o sangue do cordão umbilical.

Ou seja, a nossa missão é disponibilizar o acesso a terapias inovadoras, ajudando a transformar a vida de doentes e das suas famílias. E para isso, também trabalhamos em colaboração com profissionais de saúde para garantir que estas terapias estejam cada vez mais acessíveis.

13. Pode explicar-nos de forma simples o que são células estaminais e por que razão são tão especiais?

Mónica: As células estaminais, são células-mãe do nosso organismo, são capazes de originar novas células e de regular o sistema imunológico. 

Essa capacidade imunomoduladora é particularmente importante em doenças autoimunes e neurológicas, ajudando na melhoria dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes.

14. Em que doenças as células estaminais já são utilizadas hoje em dia?

Mónica: As células estaminais, que se encontram em vários tecidos, nomeadamente na medula óssea e no sangue do cordão umbilical, têm sido muito utilizadas em terapias standard, nomeadamente na área da hemato-oncologia, nas doenças metabólicas, nas anemias, essencialmente nas doenças do sangue. 

Mas com o avançar da ciência, tem-se vindo a derivar sobretudo naquilo que é a utilização do sangue do cordão umbilical para outras áreas da medicina, nomeadamente nas doenças neurológicas. Quer na infância, em doenças como autismo, paralisia cerebral, surdez; quer na idade adulta, em doenças como Alzheimer, doenças cardíacas ou autoimunes.

Tem-se vindo a perceber que estas células, não só as do cordão umbilical, mas também as do tecido do cordão umbilical e do tecido placentar, têm uma capacidade imunomoduladora de tal forma interessante, que em alguns estudos clínicos  demonstram uma capacidade de regressão da doença de tal forma, que a necessidade de uma terapia complementar é muito reduzida.

15. O sangue do cordão umbilical e o tecido do cordão umbilical têm funções diferentes?

Mónica: Exatamente, o sangue do cordão umbilical é rico sobretudo em células estaminais hematopoiéticas, usadas principalmente em doenças do sangue. 

Já o tecido do cordão umbilical, não tem células estaminais hematopoiéticas, tem sim células estaminais mesenquimais, que são úteis em  doenças autoimunes e neurológicas. Em alguns casos, as células do tecido do cordão umbilical, também podem ajudar a minimizar a rejeição em transplantes hematopoiéticos.

16. De uma forma muito sucinta consegue explicar-nos como funciona o processo de criopreservação?

Mónica: Os pais que manifestam o interesse em guardar as células estaminais, avançam para um processo, a que chamamos o processo de adesão, onde é pago um valor inicial para terem acesso ao serviço e receberem um kit de colheita, juntamente com toda a documentação e o questionário para avaliar a história clínica e familiar.

Depois os pais levam consigo o kit para a maternidade e na altura do parto é feito outro questionário para perceber se existiu alguma alteração clínica na saúde da mãe e do recém-nascido. No parto, as células são recolhidas após o corte do cordão umbilical, enviadas para o laboratório, processadas e congeladas. 

Posteriormente decorre o controlo de qualidade, onde são feitos uma série de testes e análises e após a validação dos mesmos, as células que cumpram os requisitos de qualidade ficam criopreservadas pelo período contratado.

17. Existe algum tempo limite para a preservação das células estaminais?

Mónica: Atualmente existem dados publicados de amostras guardadas há cerca de 30 anos, que mantêm a sua viabilidade celular e as suas características      

E não existe razão científica para que durem menos, contudo nós vamos ajustando os  contratos e a duração dos mesmos conforme a evolução científica e a maioridade da criança.

18. Para terminar gostaríamos que deixasse uma mensagem para quem está a ler esta entrevista.  

Mónica: Não desistir nas primeiras dificuldades. O caminho para se atingir objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais não é linear, surgem muitos desafios, recuos, mudanças de direção e é importante termos esta consciência e sabermos identificar estes momentos para melhor os ultrapassar. Com dedicação, resiliência, foco e sobretudo equilíbrio pessoal, coisas boas acontecem.

De bioquímica a CEO, Mónica lidera a Crioestaminal com visão e proximidade, transformando a ciência das células estaminais em novas perspetivas para milhares de famílias. A sua trajetória mostra que resiliência e propósito podem mudar o futuro da saúde.

1. Mónica, pode começar por nos falar um pouco sobre si e sobre o seu percurso académico? 

Mónica: Sou Bioquímica de formação, licenciei-me pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. A Bioquímica dá-nos acesso a uma panóplia de opções profissionais, muito diversificadas. E eu sempre tive interesse pela área clínica e pelo tratamento de doenças, mais do que pela investigação básica, por isso segui inicialmente a área das Análises Clínicas. 

Comecei a trabalhar nesta área logo após a conclusão do meu curso e durante esta fase, fiz também uma pós-graduação em Análises Clínicas e Saúde Pública na Faculdade de Farmácia de Coimbra para aprofundar os meus conhecimentos teóricos.

2. E como surgiu a sua ligação à Crioestaminal?

Mónica: A minha ligação à Crioestaminal surgiu quando ainda estava a fazer a minha pós-graduação. A empresa já estava no mercado há cerca de 3 anos, com uma atividade sólida e consistente e foi por volta de 2006, que em contacto com alguns antigos colegas do curso de Bioquímica, que foram fundadores da Crioestaminal, que surgiu o convite.  

Aceitei o mesmo e tive a oportunidade de integrar a equipa que estava a lançar o laboratório de criopreservação de sangue do cordão umbilical, em Portugal. 

Esta era uma área nova em Portugal e era também muito diferente daquilo que eu fazia até então, mas ao mesmo tempo, tinha toda a ligação à parte clínica, à parte de tratamento e à parte das doenças, que era tudo o que se alinhava com o meu propósito. 

3. Qual foi a sua função inicial na empresa?

Mónica: Comecei como técnica superior de laboratório, trabalhando tanto nas análises quanto na criopreservação. Como éramos uma equipa pequena, todos fazíamos um pouco de tudo. Isso permitiu-me conhecer profundamente as operações e o desenvolvimento do laboratório em Portugal.

4. E como se deu a sua progressão dentro da empresa?

Mónica: Passados dois anos, deixei de ser técnica superior de laboratório e passei a ser a responsável pela equipa de criopreservação. 

E enquanto estava a exercer esta função, tive oportunidade de realizar algumas formações na área da gestão, como programas de empreendedorismo e inovação e, mais tarde, já em 2015, um MBA em Gestão de Empresas. 

Em paralelo e nesta altura já como diretora de operações, onde tinha um espectro mais alargado de responsabilidade e atuação na empresa, assumi o lançamento da atividade da Crioestaminal na Suíça, o que me deu uma experiência prática bastante valiosa em gestão internacional.

 

5. Quando é que se tornou CEO?

Mónica: Antes de me tornar CEO e após algumas alterações naturais que foram ocorrendo ao nível da administração da empresa, fui convidada, enquanto Diretora de Operações, para integrar o Conselho de Administração.

Mais recentemente, em 2022, após o antigo CEO, que também era um dos fundadores da empresa, deixar o cargo, eu fui convidada a assumir a posição que tenho até hoje.

Considero que este percurso foi natural, não foi propriamente pensado ou programado, foi sim um conjunto de oportunidades que foram surgindo e que se adequaram ao meu percurso na empresa e ao meu crescimento pessoal e profissional.

E sem dúvida, que este foi o momento mais marcante da minha carreira até ao momento. 

6. E quais são os maiores desafios de ser CEO numa área tão sensível como a Criopreservação?

Mónica: São vários desafios, além da parte de liderança de equipas, onde é muito importante mantê-las motivadas e focadas naquilo que são os nossos objetivos. 

Esta área pode divergir em várias direções e temos que manter um foco muito grande, pois é uma área muito sensível, onde a comunicação que fazemos implica termos um enorme cuidado com a informação que estamos a transmitir.

É essencial estarmos sempre sensibilizados e a par de tudo aquilo que está a acontecer, não só para transmitirmos a informação da melhor forma, mas também para podermos continuar a inovar, a evoluir e a dar resposta às necessidades das famílias e dos profissionais de saúde. 

No meu entender e apesar de termos especialistas em todas as áreas que referi acima, considero que um CEO deve acompanhar, compreender e ser conhecedor do que se está a desenvolver. Devemos mantermo-nos informados, continuar a estudar e a aprender.

7. Como descreveria o seu estilo de liderança?

Mónica: Gosto de estar disponível e ser desbloqueadora. 

Ou seja, procuro sempre estar presente para os colaboradores da empresa, ouvi-los quando estes precisam, apoiá-los quando surgem obstáculos e garantir que as equipas avançam sem bloqueios. Acredito que a proximidade e o exemplo são fundamentais.

8. Quantas pessoas trabalham atualmente na Crioestaminal? E o que valoriza mais numa equipa de trabalho?

Mónica: Atualmente somos cerca de 60 colaboradores.

Em relação a uma equipa de trabalho, o que valorizo mais é a transparência, a colaboração e o espírito de equipa, que são fundamentais para atingirmos os resultados coletivos.

9. Para além do trabalho, como equilibra a sua vida pessoal e profissional?

Mónica: É essencial manter o equilíbrio. Tenho dois filhos, dois rapazes, com 11 e 16 anos e uma vida familiar muito ativa, gostamos de equitação, de caminhadas, de estar com os nossos animais de estimação e de estar em contacto com a natureza. 

Também valorizo os meus momentos de introspeção e de leitura, que me ajudam a manter a clareza mental e o equilíbrio.

Tento separar os momentos de trabalho e os momentos pessoais sempre que possível, e também dou o exemplo dentro da empresa, mostrando que é importante desligar para recarregar energias.

10. Que legado gostaria de deixar na empresa e no sector da saúde em Portugal?

Mónica: Tenho duas coisas que gostava de chegar próximo de realizar.

Por um lado, gostava de conseguir que a empresa funcione de forma autónoma e integrada, que a posição de liderança de topo não seja quase necessária ou visível, no sentido em que as equipas estão de tal forma colaborativas e alinhadas com o propósito e os objetivos da empresa, que faz com que tudo flua naturalmente. Ou seja, gostaria de deixar a equipa preparada e madura o suficiente para que isto seja possível de acontecer. 

E por outro lado, gostava que em Portugal conseguíssemos ter pelo menos um tratamento com as células estaminais, fora daquilo que é um tratamento standard realizado nas áreas da hematologia/hemato-oncologia nos IPOs. Existem muitos outros tratamentos inovadores que já estão a ser desenvolvidos e implementados noutros países e gostava que nós conseguíssemos chegar à fase de ter esses tratamentos no nosso país, ainda que de uma forma experimental em contexto de ensaio clínico ou mecanismos de isenção hospitalar.

11. Que conselho daria a jovens cientistas, especialmente mulheres que queiram seguir uma carreira de liderança em Biotecnologia?

Mónica: Diria para estarem sempre atentas, despertas e disponíveis a aprender, quer seja com as circunstâncias que as rodeiam, quer com as restantes pessoas com quem trabalham.

Que sejam resilientes e que não tenham medo de percorrer caminhos inesperados. O percurso não é linear, mas é recompensador.

Em suma, diria que o foco, a resiliência e a abertura para aprender são fundamentais.

12. Agora com o foco mais na empresa, gostaríamos de saber qual é a missão central da Crioestaminal?

Mónica: A nossa missão vai além do armazenamento de células estaminais, de sermos apenas um banco de criopreservação. 

O foco da empresa sempre foi armazenar as células, mas também trabalhar em investigação e mobilizar os meios necessários para que mais terapias possam estar disponíveis, naturalmente com base nas células estaminais que é o nosso foco, mas eventualmente até com outro tipo de fontes, sem ser só o sangue do cordão umbilical.

Ou seja, a nossa missão é disponibilizar o acesso a terapias inovadoras, ajudando a transformar a vida de doentes e das suas famílias. E para isso, também trabalhamos em colaboração com profissionais de saúde para garantir que estas terapias estejam cada vez mais acessíveis.

13. Pode explicar-nos de forma simples o que são células estaminais e por que razão são tão especiais?

Mónica: As células estaminais, são células-mãe do nosso organismo, são capazes de originar novas células e de regular o sistema imunológico. 

Essa capacidade imunomoduladora é particularmente importante em doenças autoimunes e neurológicas, ajudando na melhoria dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes.

14. Em que doenças as células estaminais já são utilizadas hoje em dia?

Mónica: As células estaminais, que se encontram em vários tecidos, nomeadamente na medula óssea e no sangue do cordão umbilical, têm sido muito utilizadas em terapias standard, nomeadamente na área da hemato-oncologia, nas doenças metabólicas, nas anemias, essencialmente nas doenças do sangue. 

Mas com o avançar da ciência, tem-se vindo a derivar sobretudo naquilo que é a utilização do sangue do cordão umbilical para outras áreas da medicina, nomeadamente nas doenças neurológicas. Quer na infância, em doenças como autismo, paralisia cerebral, surdez; quer na idade adulta, em doenças como Alzheimer, doenças cardíacas ou autoimunes.

Tem-se vindo a perceber que estas células, não só as do cordão umbilical, mas também as do tecido do cordão umbilical e do tecido placentar, têm uma capacidade imunomoduladora de tal forma interessante, que em alguns estudos clínicos  demonstram uma capacidade de regressão da doença de tal forma, que a necessidade de uma terapia complementar é muito reduzida.

15. O sangue do cordão umbilical e o tecido do cordão umbilical têm funções diferentes?

Mónica: Exatamente, o sangue do cordão umbilical é rico sobretudo em células estaminais hematopoiéticas, usadas principalmente em doenças do sangue. 

Já o tecido do cordão umbilical, não tem células estaminais hematopoiéticas, tem sim células estaminais mesenquimais, que são úteis em  doenças autoimunes e neurológicas. Em alguns casos, as células do tecido do cordão umbilical, também podem ajudar a minimizar a rejeição em transplantes hematopoiéticos.

16. De uma forma muito sucinta consegue explicar-nos como funciona o processo de criopreservação?

Mónica: Os pais que manifestam o interesse em guardar as células estaminais, avançam para um processo, a que chamamos o processo de adesão, onde é pago um valor inicial para terem acesso ao serviço e receberem um kit de colheita, juntamente com toda a documentação e o questionário para avaliar a história clínica e familiar.

Depois os pais levam consigo o kit para a maternidade e na altura do parto é feito outro questionário para perceber se existiu alguma alteração clínica na saúde da mãe e do recém-nascido. No parto, as células são recolhidas após o corte do cordão umbilical, enviadas para o laboratório, processadas e congeladas. 

Posteriormente decorre o controlo de qualidade, onde são feitos uma série de testes e análises e após a validação dos mesmos, as células que cumpram os requisitos de qualidade ficam criopreservadas pelo período contratado.

17. Existe algum tempo limite para a preservação das células estaminais?

Mónica: Atualmente existem dados publicados de amostras guardadas há cerca de 30 anos, que mantêm a sua viabilidade celular e as suas características      

E não existe razão científica para que durem menos, contudo nós vamos ajustando os  contratos e a duração dos mesmos conforme a evolução científica e a maioridade da criança.

18. Para terminar gostaríamos que deixasse uma mensagem para quem está a ler esta entrevista.  

Mónica: Não desistir nas primeiras dificuldades. O caminho para se atingir objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais não é linear, surgem muitos desafios, recuos, mudanças de direção e é importante termos esta consciência e sabermos identificar estes momentos para melhor os ultrapassar. Com dedicação, resiliência, foco e sobretudo equilíbrio pessoal, coisas boas acontecem.

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