

Há 20 anos, o sonho de dois jovens empreendedores deu origem àquela que é hoje a maior escola de bartenders da Europa. A história da Cocktail Team é feita de paixão, resiliência e visão.Nesta edição da Leader’s Talks by Volse, Hugo e Lúcia partilham como transformaram obstáculos em oportunidades e criaram uma verdadeira comunidade global dedicada à arte do bar.
1. Antes de entrarmos no mundo dos cocktails, pode falar-nos um pouco sobre o seu percurso inicial?
Hugo: Comecei no desporto, como jogador de voleibol de alta competição. Era uma paixão que ocupava a minha vida mas infelizmente sofri várias lesões que me obrigaram a repensar o meu futuro. Foi um período difícil, porque tive de deixar para trás aquilo que achava que seria a minha carreira, como treinador ou professor de voleibol.
Mas, ao mesmo tempo, abriu-se uma nova porta e descobri que existia o curso de técnico de bar e restaurante e frequentei o mesmo, durante três anos. Aqui comecei a perceber o porquê das coisas e percebi que tinha encontrado a minha verdadeira vocação.
2. Como foi a transição para esta nova área?
Hugo: No início, tudo era novo, comecei por fazer alguns estágios, no Hotel Tivoli e no Hotel Alfa, o atual Hotel Corinthia. Estes estágios davam-nos logo uma boa reputação e após os mesmos, comecei logo a trabalhar como chefe de bar na Marina de Cascais, onde estive por dois anos.
Após este período, decidi sair, pois percebi que trabalhar num bar de Hotel e num bar de rua era totalmente diferente, tendo em conta o tempo que tínhamos disponível para preparar cada um dos cocktails.
Então decidi apostar ainda mais na minha formação e foi quando soube de um curso em Inglaterra, onde os cursos de bar já tinham outro nível e acabei por realizar dois cursos em simultâneo, o curso de técnicas de bar e o de flair bartending, que são os conhecidos “malabarismos” com garrafas e shakers.
3. E estas formações mudaram a sua carreira?
Hugo: Sem dúvida, quando regressei de Inglaterra e voltei a trabalhar no mesmo bar, voltei com uma visão muito mais profissional e estruturada. Comecei a aplicar o que aprendi e os resultados foram impressionantes, consegui triplicar o valor da minha faturação, para vos dar o exemplo, a minha faturação mensal passou dos 500€ para os 1500€.
Isto levou a que as encomendas do bar também aumentassem na mesma proporção e, consequentemente, as marcas quiseram perceber o que se passava e foi nessa mesma altura que começaram a surgir convites para trabalhar com algumas delas.
4. Foi nessa altura que começou a trabalhar como embaixador de marcas de bebidas?
Hugo: Sim, foi na sequência destes convites para trabalhar com algumas marcas, que me tornei embaixador.
Primeiro representei a Cardhu (um single malt whisky), tornando-me o embaixador mais jovem da marca no mundo. Tive o privilégio de viajar até à Escócia para ter formação e foi uma experiência única e muito enriquecedora, onde pude experienciar tudo o que na altura se via em livros, ao vivo! Como sentir os cheiros, ver a dedicação das pessoas e também o estilo de liderança, que era completamente diferente do que existia no nosso país. Ali existia uma relação de grande proximidade e respeito entre funcionários e proprietário.
Um ano após estar a trabalhar com a Cardhu, tive a oportunidade de assinar o primeiro contrato de exclusividade da Absolut Vodka em Portugal, primeira vez que algo acontecera em Portugal. Foi um enorme reconhecimento e também uma grande responsabilidade, pois era a cara de uma marca internacional.
Foi também durante o período de duração deste projeto, que foi de um ano, que surgiu a ideia de criar a Cocktail Team.
5. E pode contar-nos em mais detalhe como surgiu a ideia da criação da Cocktail Team?
Hugo: Como indiquei, foi durante o projeto com a Absolut Vodka que tive a ideia de criar a Cocktail Team, isto porque foi também nesta altura que conheci a Lúcia, que é a minha parceira de vida e também de negócios.
A Lúcia desenvolveu o projeto que viria a ser a Cocktail Team, na sua pós-graduação em Marketing e decidimos que era a altura de criar algo nosso. Assim, nasceu a Cocktail Team, a 21 de Março de 2005.
Queríamos construir um projeto sólido, com três áreas bem definidas: a escola de bartenders, a organização de eventos e a consultoria de bar.
6. Quais foram os maiores desafios na fase inicial?
Hugo: No início, não foi fácil! Éramos apenas três pessoas na empresa, eu, a Lúcia e uma rececionista. E os seis primeiros meses foram muito difíceis, pois pensava que sendo o primeiro embaixador de uma marca de bebidas tão conceituada, várias portas se abririam, mas a verdade é que não aconteceu.
Como maiores desafios identifico mesmo o ceticismo do mercado, a falta de credibilidade que nos era atribuída por sermos tão jovens e também a falta de apoios financeiros.
Apesar de todos estes desafios, a nossa resiliência e motivação foi o que nos fez continuar!
Muitas vezes ouvíamos que isto não passava de uma moda e que não teríamos futuro, mas apostámos em inovação, diferenciámo-nos pela qualidade da formação e dos eventos, e pouco a pouco fomos conquistando o nosso espaço no mercado.
Após esses seis meses, o ponto de viragem aconteceu quando, após várias tentativas, conseguimos uma reunião com uma grande empresa de bebidas e a primeira oportunidade de negócio surgiu.
7. E quando é que sentiram que a empresa tinha dado o salto?
Hugo: Sentimos que demos o salto quando começámos a ser procurados não só em Portugal, mas também por marcas e clientes internacionais.
A escola de bartenders cresceu de forma exponencial, os nossos eventos passaram a ter um nível cada vez mais premium e começámos a ganhar prémios internacionais.
Hoje podemos dizer, com orgulho, que temos a maior escola de bar da Europa e uma das empresas mais premiadas do setor.
8. Quantas pessoas fazem parte da Cocktail Team atualmente?
Hugo: Atualmente temos uma equipa interna de 11 pessoas, duas no Marketing, duas no sector administrativo, dois accounts e career developers, um responsável na escola, um responsável nos eventos e um em consultoria. Na administração, sou eu e a Lúcia.
Mas a nossa rede vai muito além disto, ou seja, os nossos antigos alunos estão espalhados por todo o mundo, a trabalhar em hotéis de luxo, bares de referência e grandes multinacionais. Muitos deles continuam ligados à Cocktail Team e colaboram connosco em eventos ou projetos de consultoria. Diria que criámos uma verdadeira comunidade global.
9. Em termos de eventos, que tipo de experiências oferecem?
Hugo: Organizamos essencialmente eventos de luxo, ou seja, o nosso símbolo já é associado a este tipo de eventos. E procuramos sempre oferecer experiências personalizadas.
Desde lançamentos de produtos, ativações de marca, festas privadas, casamentos e até projetos de grande dimensão internacional, em que posso dar o exemplo do maior bar suspenso do mundo, no Dubai, onde a nossa equipa esteve presente.
Considero que o que nos diferencia é o detalhe, cada evento é pensado para ser único, combinando cocktails de autor, design, um serviço de excelência e uma componente de espetáculo que surpreende sempre os convidados.
10. Referiu que já estiveram presentes em mercados internacionais, podemos saber em quais é que atuaram?
Hugo: Além do Dubai, como já referi, já realizámos projetos em Espanha, França, Brasil, Irlanda e Inglaterra, um bocadinho por todo o mundo.
Trabalhamos sobretudo com marcas de bebidas premium e clientes que procuram algo diferenciador. É um orgulho levar o nome de Portugal para fora e mostrar a qualidade do que fazemos.
11. E na vertente de consultoria, que tipo de trabalho realizam?
Hugo: A nossa vertente de consultoria, existe essencialmente para prestar apoio e ajuda a bares, restaurantes e hotéis a estruturarem a sua oferta de bebidas.
Isto vai desde o desenho da carta de cocktails, da formação das equipas, da escolha de equipamentos, até ao acompanhamento operacional. O objetivo é sempre aumentar a rentabilidade do negócio e melhorar a experiência do cliente.
12. Como é que considera o seu estilo de liderança atualmente?
Hugo: Considero que é muito importante estar a par do que as pessoas sentem, cuido da minha equipa, valorizo o crescimento individual, crio oportunidades reais de carreira, acredito em liderar e dar o exemplo, ou seja, estou sempre no terreno a formar, a servir, a aprender e a inspirar mais do que a mandar. Vejo a liderança como a arte de inspirar e transformar. O meu estilo baseia-se em estar próximo das pessoas, compreender o que sentem e ajudá-las a crescer, criando oportunidades reais de desenvolvimento e carreira. Lidero sempre pelo exemplo, porque acredito que só assim é possível gerar confiança e compromisso. Estou no terreno a apoiar, a formar, a servir e também a aprender, para mostrar que juntos somos mais fortes. A minha missão é inspirar cada membro da equipa a acreditar no seu potencial e a alcançar resultados extraordinários, com paixão, coragem e propósito.
13. Gostaríamos de saber se existe alguma curiosidade sobre a empresa ou sobre vocês (Hugo e Lúcia), que nunca tenham partilhado?
Lúcia: Temos uma história engraçada, que aconteceu logo no primeiro dia que íamos abrir a Cocktail Team. Estávamos a caminho da escola, um percurso que demorava cerca de 5 minutos desde a nossa casa, e acabámos por ter uma discussão por um motivo mínimo. Nunca discutíamos e aconteceu exatamente naquele momento. A minha reação foi fazer as partilhas, era o sonho do Hugo e não o meu. Mas rapidamente nos entendemos e ficou uma história gira para contar.
14. Se tivesse de deixar um conselho a quem está a começar no setor ou uma mensagem inspiradora, qual seria?
Lúcia: Considero que existem duas grandes palavras que um CEO tem que se focar, ou pelo menos, foi nelas que nós nos focamos. Uma delas é paixão e a outra é resiliência! Diria para nunca desistirem, mesmo quando os obstáculos parecem inultrapassáveis.
Este é um setor exigente, mas também cheio de oportunidades. Com dedicação, formação e a dita paixão, é possível construir uma carreira sólida e, quem sabe, até uma empresa de sucesso!